Pode ser defeito meu, ou característica, mas a verdade é que desde muito cedo senti que não podia falhar.
Havia um sentimento constante de que não era bom o suficiente. Até mesmo no meu percurso escolar, acabava sempre por achar que podia fazer melhor, conseguir melhores resultados e que nada estava suficientemente bom. Deveria ser sempre muito bom. A verdade é que nunca me permiti ter muita liberdade para falhar.
Talvez existisse medo de recomeçar, talvez fosse o medo de não saber fazer melhor e não atingir os objetivos, receio de não orgulhar os meus pais e os meus avós, talvez até servisse de alimento ao ego. Sei lá!
Recentemente, numa consulta de psicologia, foi-me pedido que começasse a refletir a minha necessidade de controlar todas as situações e não me permitir errar, falhar, deixar algo por fazer. Comecei, então, um caminho de introspeção. Rebobinei a cassete uns bons anos e penso ter chegado a conclusões bastante interessantes e pertinente. Para mim, recomeçar implica fazer tudo de forma diferente: com uma nova metodologia, com novas estruturas, com outra energia, talvez. Recomeçar implica reavaliar as situações e "fugir" das regras e limites que, muitas vezes, eu próprio crio e delimito.
Não é propriamente mau ter regras e limites, a não ser que essas mesmas regras e limites sejam barreiras e uma auto sabotagem às nossas conquistas.
Talvez a minha procura pela perfeição tenha sido um dos meus maiores travões. Sempre senti que não podia falhar e não foi, de todo, algo que me tenha sido impingido por alguém. Mais uma vez, penso que tenha sido a necessidade de não desiludir quem mais amo. Não queria desiludir ninguém, dar parte fraca, mostrar as minhas feridas.
Senti que não podia falhar e tinha de ser perfeito. Fui aprendendo, no entanto, que aliado ao perfecionismo há sempre um determinado nível de sofrimento e ansiedade. O tentar alcançar a perfeição torna-me ansioso, inflexível, teimoso, excessivamente preocupado com tudo e mais alguma coisa. Pode tornar-se uma maldição, pois nem me permitia dormir e descansar devidamente.
Agora já consigo encarar as falhas com maior leveza e, sem dúvida alguma, que essa leveza me permite deitar mais descansado e diminui os meus níveis de stress. Inicialmente não foi fácil, é um facto. No entanto, permito-me falhar sem quaisquer medos. Continuo, porém, a ser um adepto ferrenho do trabalho árduo, dedicação, perseverança, estudo e muito sacrifício e amor pelo que faço. Disso não consigo abrir mão. Muita calma nessa hora!
Senti muitas vezes que não podia falhar, na busca de algo perfeito, sem falhas e onde possíveis cenários de remendos eram impensáveis. A perfeição não existe e ainda bem que assim é. A imperfeição aumenta a nossa sede de nos tornarmos mais e melhores. Esse é o grande desafio de superação, a superação pessoal.
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